Uma das edificações mais emblemáticas da cidade, que remonta ao século XIX e tem uma forte ligação ao contexto das lutas liberais, é precisamente a Câmara Municipal, de traça neoclássica. Os grandiosos Paços do Concelho, implantados na Praça Velha, vieram substituir o antigo edifício, quase em ruínas, muito semelhante ao da Câmara Municipal da cidade da Praia da Vitória. A fachada atual está dividida em secções e é encimada por uma cimalha com platibanda. A secção central é rematada por um frontão triangular, com tímpano esculpido que inclui o brasão da cidade e a inscrição ‘Valor, Lealdade e Mérito’ (Raimundo, 2014). Existindo possibilidade de visitar o edifício, logo à entrada, é possível contemplar o brasão que pertenceu ao antigo mercado municipal e, ao cimo da escadaria, o vitral triplo que ostenta a bandeira portuguesa, as insígnias da cidade e a Cruz de Cristo, primeiro símbolo da ilha. Enquadrado pelo vitral, o busto do Infante D. Henrique, esculpido, em 1960, por Numídico Bessone, relembra os tempos gloriosos dos descobrimentos ultramarinos. No salão nobre, estão presentes sinais da História de Portugal e da ilha: o busto de D. Pedro IV, de 1826, da autoria de Marc Ferrez e o quadro da rainha D. Maria II, datado de 1829 e pintado por William Fowler, que pintou alguns retratos da rainha Vitória. Distinguem-se, ainda, as chaves da cidade, as varas dos vereadores e a Carta Régia que lhe concedeu a Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito (Melo, 2016).
Verdadeiros símbolos da Angra liberal e de visita obrigatória são o Jardim Duque da Terceira e o Alto da Memória, onde pontifica um portentoso obelisco erguido em honra de D. Pedro IV e da sua passagem, pela ilha Terceira, em 1832. O Jardim — cujo nome evoca o Conde de Vila-Flor, importante militar liberal que encabeçou a ‘Campanha dos Açores’, no período das lutas - está enquadrado pelo Convento de S. Francisco e pelo Colégio dos Jesuítas, organizando-se em vários patamares que possibilitam a subida da parte mais baixa da cidade à cota mais elevada - a Memória, de onde se desfruta de uma excelente vista panorâmica. No jardim abundam os canteiros de flores e a vegetação exótica, incluindo um pequeno monumento em homenagem ao escritor Almeida Garrett, o Pátio dos Azulejos e o Tanque do Negro, que recorda a presença de escravos domésticos, na ilha. Subindo pela Passagem Silva Sarmento e algumas rampas sinuosas, alcança-se o miradouro já referido (Raimundo, 2014), erguido sobre as ruínas do antigo Castelo dos Moinhos [primeira fortificação angrense]. O obelisco tem a forma de pirâmide assente num pedestal escalonado e está no centro de uma plataforma (miradouro) de planta quadrangular. Na base encontram-se várias inscrições e elementos decorativos (Raimundo, 2014), que alguns estudiosos associam à simbologia maçónica.
Na esteira da afirmação burguesa e da difusão de títulos e comendas, tão típica da segunda metade de oitocentos, João Jorge da Silveira e Paulo, que fez fortuna em S. Tomé e foi agraciado como Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real, adquiriu o antigo Solar dos Noronha, junto à Igreja da Conceição e, depois de o demolir, construiu o elegante palacete, com mirante, ainda hoje conhecido como Palacete Silveira e Paulo. As obras tiveram início em 1900, mas em 1937, o edifício passou para a posse do Estado. Hoje, adaptado a serviços públicos regionais, não deixa de ser um atrativo da cidade, seguindo “uma linguagem arquitetónica eclética de prevalência classizante em que impera a simetria” (Raimundo, 2014, p. 245).
Descendo pela típica Rua do Galo, de que falaremos no Roteiro seguinte, o visitante chega à Praça Velha e subindo a Rua da Sé, numa das transversais à direita, encontra o Teatro Angrense. Este imóvel de interesse público, cuja inauguração decorreu em 1860, está integrado entre edifícios de habitação, dos quais se destaca pelas suas características e dimensão. A fachada é de linguagem neoclassizante e o tímpano que remata a secção central tem um relevo decorativo com as letras T.A. No interior, a sala tem forma de ferradura aberta para a zona do palco, cuja boca de cena é um grande arco abatido. Em redor, três níveis de camarotes emolduram a ampla plateia (Raimundo, 2014). O gosto pelo teatro, que se afirmou em Portugal no período do Romantismo [ainda que com tradições mais antigas], rapidamente se consolidou nas ilhas.
Se a arquitetura religiosa e civil pública adquire um importante significado e interesse para o turista que visita esta cidade, a arquitetura popular não se reveste de menor importância.