Aos 25 anos, a jovem agrónoma Sara Guimarães Gonçalves foi uma das vencedoras deste ano dos prémios do Instituto Europeu de Inovação em Tecnologia (EIT) pela sua missão de poupar água através de sistemas inteligentes. Ganhou na categoria EIT Woman, que se destina a destacar projectos desenvolvidos por mulheres na União Europeia.

A vitória foi-lhe atribuída pelo trabalho desenvolvido nos últimos dois anos com a Trigger Systems, uma startup que ajudou a fundar em 2017 para automatizar sistemas de rega em parques, jardins e campos agrícolas quando estava no último ano da faculdade. A cidade de Lisboa já tem o sistema instalado no Parque Eduardo VII, no Jardim da Estrela, nos Jardins do Campo Grande e na Quinta das Conchas.

“É sempre um pouco paradoxal ganhar numa categoria destinada a eleger mulheres. Por um lado, o reconhecimento é óptimo mas, por outro, espero que daqui a uns anos este tipo de prémios deixem de ser necessários”, admite ao PÚBLICO Sara Gonçalves, pouco depois da cerimónia de entrega de prémios do EIT em Budapeste. “Ainda há muito preconceito em relação às mulheres nestas áreas, mas é preciso deixar de olhar ao género. É preciso existirem tantas mulheres como homens a trabalhar na área de inovação a tecnologia.” Além do reconhecimento, o prémio vem acompanhado de 20 mil euros que Sara Gonçalves diz que vão ser utilizados para continuar a desenvolver o produto.

“O próximo passo é arranjar mais parceiros em Portugal e depois em Espanha, França e Brasil”, prevê Sara Gonçalves, que trabalha lado a lado com Francisco Manso, outro engenheiro agrónomo, mas com mais 20 anos de experiência na área.

A tecnologia depende de uma plataforma online onde são programados algoritmos que são capazes de prever a quantidade de água que as plantas precisam – o resultado é enviado para o equipamento que está a ser instalado em jardins públicos, campos de golfe, e quintas por todos o país.

Gonçalves acredita que o facto de ambos os fundadores serem “agrónomos antes de tecnólogos” é uma das grandes vantagens do projecto. “Viemos directos do lado do negócio em vez de virmos do lado da tecnologia e de tentar arranjar um problema para criar uma solução. Conhecemos bem a área e por isso nós já sabíamos qual era o problema – gasta-se muito água e é preciso parar”, frisa a jovem que viveu numa quinta quando era mais nova. “Em Lisboa, por exemplo, onde há cerca de 900 sistemas de rega separados, todos podem ser programados através do Trigger Systems. Quando chove já não é preciso ir ao local para os desligar – pode-se fazer tudo à distância.” — pela internet.

Com isto, o ano passado poupou-se cerca de 50% da água normalmente utilizada no Parque Eduardo VII. “Acredito que foi o equivalente a 100 mil euros em água”, diz Gonçalves. Mas a proximidade do mercado também traz algumas desvantagens – como começar a testar o produto cedo demais.

“Há um ano, por exemplo, pensávamos que estava tudo súper sólido e robusto e depois existiu um raio no meio de uma quinta que destruiu um dos nossos controladores”, recorda Gonçalves. “Tivemos de voltar atrás e fazer um controlador à prova de raios. Foi um erro por ter ido muito cedo, mas também foi uma vantagem porque todos os dias acabamos por aprender.”

Além do projecto ser apoiado pela InnoEnergy, que é o braço da EIT destinado a promover tecnologias para criar um mundo mais sustentável, a equipa portuguesa tem recebido apoio da Portugal Ventures, da Startup Lisboa, da Câmara de Oeiras e da Câmara do Fundão, onde têm a sede.

“O apoio da EIT vai mais longe que o financiamento. Ajudam-nos, por exemplo, a desenvolver patentes, a estabelecer contactos com parceiros e como têm uma grande relação com instituições académicas também nos ajudam a encontrar jovens para estagiar connosco”, resume Gonçalves.

O sistema de rega português partilhou o pódio do EIT com a startup francesa Diabeloop, que está a trabalhar numa bomba de insulina automática para crianças, com o projecto sueco CorPower Ocean, que quer produzir electricidade através da energia das marés, e com a o LeafTech, uma startup alemã que estima a energia necessária para iluminar e aquecer um edifício ao combinar informação meteorológica com o gasto energético das casas e informação recolhida por sensores em janelas. Ganharam nas categorias de EIT Venture, EIT Innovators e EIT Change respectivamente.

Este ano, o prémio do público foi para a Zeleros, uma startup espanhola que ambiciona criar um sistema a grande velocidade em que cápsulas viajam ao longo de gigantescos tubos (a fazer lembrar a ideia do magnata Elon Musk para o Hyperloop).

Criado em 2008, o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia – melhor conhecido pela sigla EIT – é um órgão independente na União Europeia criado para estimular a capacidade da região inovar na área da tecnologia e da inteligência artificial ao facilitar o contacto entre universidades, investigadores e empresas no mundo real. Na corrida para o domínio na área da inteligência artificial, a luta pelo primeiro lugar é cada vez mais entre os EUA e a China. O EIT quer ajudar a Europa a ganhar terreno ao apoiar projectos em áreas como o digital, alimentação, saúde, energia sustentável, matérias-primas, e mobilidade.

FONTE:PÚBLICO/Karla Pequenino

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