Mercedes-Benz espelha o nome de um dos seus fundadores: Karl Benz. Mas por que razão Mercedes em vez de Gottlieb Daimler? A "culpa" é de um austríaco…

Sabia que o nome Mercedes tem origem espanhola?

A Mercedes-Benz é das marcas mais famosas em todo o mundo e dispensa apresentações. Como se sabe, um dos fundadores ligados à marca foi Karl Benz, que patenteou o primeiro automóvel, o Benz Patent Motorwagen, em janeiro de 1886. Também se sabe que Gottlieb Daimler esteve na origem da Mercedes-Benz.

Mas por que razão o nome Mercedes, de origem espanhola, está associado ao construtor alemão? Por que não o nome Daimler, o responsável pela fábrica de onde saíram, não só alguns dos primeiros automóveis alemães (Daimler tem a patente do primeiro carro com quatro rodas), como os primeiros Mercedes-Benz? A marca alemã tem nome espanhol e a culpa é de um austríaco que vendia automóveis em França. Fique a saber tudo, a seguir.

MERCEDES: DE CANNSTADT PARA O MUNDO

Em 1897, o empresário Emil Jellinek viajou da Áustria para a Alemanha, após ter visto um carro da marca DMG num anúncio publicitário de uma revista de humor e sátira. Jellinek era deputado, progressista, um homem de negócios interessado em desporto e um entusiasta dos automóveis. O empresário rumou a Cannstatt, a cerca de 150 km de Estugarda, à procura das instalações da Daimler Motoren-Gesellschaft (DMG), fábrica do automóvel que vira no anúncio.

Conheceu Gottlieb Daimler, responsável pela empresa e eterno nome associado à história da Mercedes-Benz. Jellinek interessou-se bastante pelos projetos do alemão e acabou por encomendar um automóvel: o Phoenix Double-Phaeton. Este foi o primeiro carro com motor de quatro cilindros concebido por Maybach, engenheiro que trabalhava com Daimler e que ficou ligado à história da Mercedes-Benz – Maybach é a marca de automóveis luxuosos (extravagantes, mesmo), pertença da Mercedes-Benz.

O Double-Phaeton encomendado para o empresário austríaco tinha 8 cavalos de potência e atingia cerca de 24 km/h. Satisfeito com o seu “topo de gama”, Jellinek voltou ao contacto após dois anos e encomendou seis carros. Emile Jellinek era um homem de negócios bem relacionado na alta sociedade e vendeu facilmente os automóveis construídos por Daimler e Maybach. O sucesso foi tal que Emil, entusiasmado e acreditando na qualidade dos carros alemães, pediu autorização para vender os automóveis DMG, tendo aumentado as vendas nos dois anos seguintes para, respetivamente, 10 e 29 unidades.

Emil Jellinek era amante do desporto automóvel e participava em várias corridas com uma equipa própria, tendo vencido várias das provas que se disputavam em meios elitistas e que reuniam endinheirados fãs de automóveis. Uma dessas competições tinha lugar na região de Nice, França, e desenrolava-se ao longo de uma semana. Em 1899, Emil Jellinek, que já vendia automóveis para vários pontos da Europa a partir daquela região, venceu as 5 provas dessa competição, incluindo o Concours d’Élegance de Monte Carlo. O feito concentrou ainda mais as atenções nos carros que o empresário trouxera da Alemanha.

O “SENHOR” MERCEDES

Os DMG que a equipa de Jellinek usou na riviera francesa tinham todos a mesma identificação gravada no chassis: Mercedes. O nome era da filha de Emil, Mercedes Jellinek, que falecera com apenas quatro anos. O nome Mercedes tem origem no espanhol “merced”, que significa misericórdia, graça concedida por Deus.

Emil acreditava que a filha, apesar da morte prematura, era um sinal de sorte e esperança. A mansão que tinha em Nice, local onde a filha foi sepultada, chamava-se Villa Mercedes e o nome viria a identificar os carros da equipa. Emil acabou também por batizar a própria equipa com o mesmo nome e ficou mesmo conhecido no meio como “senhor Mercedes”. Mais tarde, aos 50 anos de idade, em Viena, viria a registar o seu próprio nome como Jellinek Mercedes.

MERCEDES “À GRANDE E À FRANCESA”

Com sucesso contínuo nas competições em que participava, Jellinek elevou a fasquia e pediu se era possível construir um carro mais potente. Maybach foi responsável pela construção de um motor com 35 cavalos de potência, extraídos de um quatro cilindros com 5,9 litros de capacidade. O Mercedes 35 PS pesava 1.200 kg e tinha 2,3 metros de distância entre eixos. Jellinek encomendou 36 unidades deste novo modelo e outras tantas do DMG de 8 cavalos.

O empresário acabou por tornar-se membro dos quadros da DMG e agente exclusivo dos automóveis Mercedes para vários países europeus e para os Estados Unidos da América. Um desses países era França, onde Panhard Levassor (engenheiro de automóveis) detinha a licença de uso de Daimler. Após alguns problemas legais, e para solucionar a questão, Jellinek passou a vender os carros da Daimler em território francês com o nome Mercedes.

Entretanto, a equipa de nome espanhol continuava a vencer as corridas em que participava, o que aumentou as encomendas de viaturas na Daimler Motoren-Gesellschaft e o sucesso comercial nos anos seguintes. Em janeiro de 1918, Emil Jellinek morreu, com 64 anos, em território suíço. Em junho de 1926, com a fusão das empresas de Karl Benz e Gottlieb Daimler, nascia a Daimler-Benz e os primeiros carros com nome Mercedes-Benz.

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