O aumento do turismo nos Açores fez aumentar o volume de negócios das ‘rent-a-car’ açorianas, mas a entrada de mais empresas no setor, entre as quais grandes multinacionais, levou a uma quebra na rentabilidade do negócio.

Os dados comprovam o que já se esperava: a liberalização do espaço aéreo açoriano, em 2015, levou a um aumento exponencial do turismo da região, que atingiu, nesse mesmo ano, o primeiro milhão de passageiros desembarcados.

As estatísticas mais recentes, do ano passado, mostram um crescimento anual de 20% desde então, com uma evolução acumulada de 72%, que contraria a taxa acumulada de -4,8% do período entre 2007 e 2013, aponta o Serviço Regional de Estatística.

Com 48 anos de funcionamento, a Ilha Verde é a maior e mais antiga ‘rent-a-car’ dos Açores, operando em todas as ilhas. Para dar resposta ao aumento da procura, Luís Rego, administrador da empresa, adianta que sentiu necessidade de aumentar a frota.

“O maior crescimento que se deu foi, realmente, com a abertura do espaço aéreo. Os indicadores, que se anunciavam de crescimento, eram indicadores acima da média da Europa, a dois dígitos. Não havia ninguém na Europa a crescer a dois dígitos”, explicou o empresário à Lusa.

Apesar do crescimento, a empresa, que representa a Europcar e a Sixt em todas as ilhas da região, exceto São Miguel, e a Avis nas nove ilhas, viu-se obrigada a adaptar-se ao “impacto violentíssimo” que foi “o aparecimento, de um ano para o outro, de cinco empresas multinacionais”.

Atualmente, “há uma oferta excessiva para a procura”, considerou o responsável, que admite que no verão podia “reduzir entre 10% a 20% da frota, mas, no inverno, essa necessidade de redução é de quase 90%”.

A pressão da concorrência, mas também a “pressão no preço”, imposta pelo surgimento de operadores com filosofia ‘low-cost’ (baixo custo), fez baixar a rentabilidade a uma taxa de 30% ao ano, nos últimos quatro anos, apesar do aumento do volume de negócio: “Nós, com mais, estamos a ter menos”, concretizou Luís Rego.

O problema é comum. Raquel Franco, sócia-gerente da Autatlantis, confessa que teve que “repensar a estratégia” da empresa que o seu pai fundou, em 1988, devido à chegada dos novos concorrentes, que “têm uma rede internacional”, mas também ao “fenómeno do preço”.

“Vê-se a prática de preços, principalmente no inverno – época baixa -, são preços muito, muito reduzidos, que depois fazem com que a rentabilidade seja posta em causa. Acho que isso é consensual – a rentabilidade das ‘rent-a-cars’ foi posta em causa”, afirmou.

Sem concretizar com números, a responsável pela empresa, que também está presente nas nove ilhas dos Açores, explicou que o crescimento não é igual em todas as ilhas e que há ilhas onde a operação chega a ser deficitária, apontando Santa Maria como “a ilha mais fustigada”.

Ainda assim, considerou que faz parte da “responsabilidade social” da empresa estar presente em todas as ilhas dos Açores.

A visão é partilhada por Luís Rego, que lidera cerca de 150 colaboradores na ‘rent-a-car’ e 300 no grupo, incluindo uma escola de condução, stands e oficinas. Considera que essa responsabilidade é “a diferença de uma empresa da região para uma empresa multinacional, que vem de fora, que não tem qualquer responsabilidade nem compromisso com a região”.

A par da entrada das multinacionais, o mercado foi confrontado com o surgimento de várias pequenas empresas aproveitando a alteração da legislação, que baixou de 25 para sete o número mínimo de viaturas necessárias para abrir portas.

Ambos os empresários consideram excessivo o número de empresas de aluguer de veículos que operam atualmente na região - estão registadas 92 empresas no setor, segundo o executivo regional -, mas consideram que vai haver um “reajustamento” do mercado.

“Vamos entrar numa fase de maturação, é assim que ditam as coisas”, considerou Raquel Franco. E concretizou: “Vamos entrar na fase em que esses pequenos vão perceber que só faz sentido quando se tem uma estrutura. Quando não se tem uma estrutura montada, começa tudo a tornar-se caro e a não valer a pena – mais vale ter um parceiro a quem se liga para arranjar um carro”.

Mesmo com os ajustes naturais que preveem para o setor, pedem mais regulamentação.

Luís Rego defende que “há setores, como este, que é um exemplo, em que o crescimento devia ser de alguma forma controlado, indexado ao aumento do turismo”. No seu entender, o Governo Regional “tem de ter permanentemente esta função reguladora, até mesmo para controlar, em termos ambientais, alguns impactos”.

Para Raquel Franco, as questões de sustentabilidade também são essenciais e deve haver uma limitação ao tamanho da frota com que cada empresa opera, mas aponta também “a necessidade de criar medidas que coloquem todos os ‘players’ no mesmo nível de exigência - nas questões estruturais que são necessárias, nos recursos que são necessários para ter uma rent-a-car”.

Sobre a possibilidade de regulamentar o setor, a Secretaria Regional dos Transportes e Obras Públicas respondeu à Lusa que “esta é, atualmente, uma atividade liberalizada”.

“Nos Açores assistiu-se, nos últimos anos, a um forte incremento da procura, o que levou ao aparecimento de maior oferta. O Governo dos Açores está atento a esta realidade e às preocupações do setor, encontrando-se atualmente a analisar essas preocupações, dado que se trata de matéria complexa, com muitas vertentes a ter em conta”, refere.

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